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  • Foto do escritorGabriela de Matos

Força Nacional é acionada após conflito com refém em área invadida por indígenas


Homem capturado por indígenas foi resgatado pela Polícia Militar. Secretário da Segurança avalia como grave a situação. (Foto: Divulgação)


A Força Nacional de Segurança Pública foi autorizada pelo governo federal a a atuar na cidade de Guaíra (PR), localizada em região de fronteira com o Paraguai, após novos conflitos relacionados à invasão de uma área no município. A cidade está no circuito em que povos da etnia Avá-Guarani reivindicam 24 mil hectares no que consideram território indígena que pertenceria a ancestrais. O processo está no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre.


A cidade de Guaíra concentra um dos maiores volumes de áreas urbanas e rurais ocupadas, com mais de uma dezena de registros. O conflito mais recente ocorreu em um espaço no perímetro urbano invadido no fim de 2023. Relatos feitos por indígenas à polícia destacam que, na noite da última quarta-feira (10), o grupo fazia um ritual de orações quando foi atacado a tiros por uma pessoa ainda não identificada. Três acabaram feridos e foram hospitalizados.


Na sequência, indígenas teriam invadido uma propriedade e levado um homem de 51 anos para a área ocupada. Ele foi agredido e nega relação com os disparos contra o grupo. O Batalhão de Polícia de Fronteira da Polícia Militar do Paraná (BPFron) atendeu a ocorrência e relatou que “as equipes foram recebidas por grupos de indígenas armados com arcos e flechas, facões (...) foram disparadas algumas flechas e pedras contra a equipe”. Os policiais não se feriram.


Ainda de acordo com a PM, houve o relato de que três indígenas foram vítimas de arma de fogo e que dois já tinham sido encaminhados a uma unidade de pronto-atendimento. “Enquanto ao fundo eram ouvidos gritos de socorro. Após negociações com a responsável pela invasão do local, foi permitido que as equipes adentrassem o assentamento para possível atendimento e encaminhamento do indígena ferido ao pronto-socorro e nesse momento foi constatado que havia um homem amarrado e ferido. O homem foi encaminhado ao atendimento médico, porém o indígena ferido, que continha um ferimento no rosto, não aceitou ser encaminhado à UPA”, descreve a Polícia Militar. Pelos relatos posteriores, o terceiro indígena ferido também foi encaminhado para atendimento médico.


Na casa do refém, segundo os policiais, estavam duas pessoas que relataram a invasão por indígenas armados e que atacaram um dos moradores com socos e chutes, sob a ameaça de armas. “No local haviam um arco e flecha, três facões e uma lança adornada que foram encaminhados à Delegacia de Polícia Federal de Guaíra. Os indígenas contaram aos policiais militares que sofreram um ataque anteriormente, que uma pessoa com arma de fogo efetuou disparos contra a invasão e fugiu no meio da mata. Em uma tentativa de revidar a agressão sofrida por eles, teriam entrado em uma residência, pego uma pessoa desconhecida e feito refém. A pessoa feita refém não teria envolvimento com a agressão sofrida pela aldeia anteriormente”, completa a PM.


Segundo um policial que atendeu a ocorrência, o homem agredido tinha ferimentos nas costas em “carne viva” e parecia estar com um braço quebrado.


Ministério avalia que indígenas vêm sendo atacados por “milícia rural privada”


O Ministério dos Povos Indígenas relatou que famílias indígenas foram alvo de novo ataque no município de Guaíra e que, conforme denúncias, a “ação foi organizada por fazendeiros”. A pasta afirma ainda que vem sendo registrada uma escalada nos conflitos nas últimas semanas. No último dia 21, os Avá-Guarani da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira “realizaram duas ações de retomada nas aldeias Y’hovy e Yvyju Avary” e, desde então, passaram a sofrer "graves ameaças e agressões por parte de grupos de não indígenas". Segundo a pasta, a área está em processo de regularização fundiária.


O Ministério dos Povos Indígenas informa que, nos dias 23 e 24 de dezembro, as aldeias Y’hovy e Yvyju Avary foram “atacadas com emprego de milícia rural privada” e acrescenta que “tão logo foi acionado, o Ministério dos Povos Indígenas realizou interlocuções com as lideranças indígenas, por meio da Comissão Guarani Yvyrupá (CGY), e gestões junto à Polícia Federal, que compareceu ao local. No ataque mais recente, o mesmo protocolo foi seguido pelo MPI, garantindo novamente a presença da PF para fazer cessar a violência”.


Na última semana do ano, a pasta solicitou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública a atuação da Força Nacional, medida autorizada nesta quinta-feira (11) “para garantir a segurança dos indígenas”.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) não manifestou sobre o caso até a publicação desta reportagem. A Polícia Federal não respondeu ao contato feito pela Gazeta do Povo.


Secretário da Segurança Pública diz que policiais vêm sendo atacados


Em Guaíra, o secretário da Segurança Pública do Paraná, coronel Hudson Teixeira, avaliou a situação como grave e disse que, com frequência, policiais militares estão sendo alvo de investida dos indígenas armados. “Queremos entender a realidade da região para organizar uma reunião com as lideranças dos dois lados, Justiça Federal, PF, policiais estaduais e para que, após a solicitação da PF, o Estado haja com a reintegração de posse ou reestabelecimento da ordem”, destaca.


O secretário acusou os grupos de violência. “Temos várias situações em que policiais são recebidos com flechadas, pessoas baleadas, agredidas, a gente não quer que ninguém venha a óbito numa situação como essa independente de ser uma missão federal ou do estado. O estado está aqui à disposição da União para que seja esclarecido e logo resolvido. O agro no Paraná é muito forte, envolve também uma questão econômica, mas estamos aqui para preservar vidas, tanto dos produtores rurais quanto dos indígenas”, completa.


 

Fonte: Gazeta do Povo

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